A morte anunciada do boleto sem registro está cada dia mais próxima. A mudança é inevitável e já entrou em vigor.
A iniciativa é fruto de uma decisão da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), anunciada no primeiro semestre de 2015, e você pode ler mais informações nesse outro post que fizemos sobre o assunto.
O boleto sem registro (também chamado de cobrança sem registro ou carteira sem registro) é amplamente utilizado no e-commerce. No comércio eletrônico, essa forma de pagamento é conhecida simplesmente como boleto bancário ou apenas boleto. Em muitas lojas virtuais, essa opção de cobrança é utilizada corresponde a mais de 40% das vendas.
Mas o que muda no e-commerce com o fim do boleto sem registro? Como os empresários podem suprir essa lacuna? Existem outras alternativas viáveis?
Devido à importância do assunto, decidi dedicar esse relatório do Criando Oportunidades para explicar em detalhes exatamente o que está acontecendo. Vou abordar sobre o que envolve essas mudanças e como os empresários e profissionais do e-commerce podem se preparar para não perderem vendas.
Muitos clientes da Bertholdo estão com dúvidas sobre o assunto. Pois, nos blogs sobre e-commerce, ainda encontramos informações incompletas ou desatualizadas. Por isso, vou compartilhar aquilo que já temos de informação consolidada.
Sobre isso, vale dizer que a nossa equipe técnica continua apurando tudo sobre o assunto. Então, vamos lá e boa leitura!
Qual a data do fim do boleto sem registro?
A primeira dúvida que surge é: até quando o boleto sem registro poderá ser utilizado? A resposta simples é março de 2017. Ou seja, faltam poucos meses para a morte do boleto sem registro. Mas precisamos explicar isso melhor.
Desde junho de 2015, os bancos brasileiros já não oferecem mais a cobrança sem registro para novos clientes. Ou seja, quem abriu uma conta bancária ou contratou uma carteira de cobrança, após essa data, já não pode utilizá-lo.
Mas e se minha loja virtual já utiliza o boleto sem registro e continuar emitindo esse tipo de cobrança em 2017? O que vai acontecer?
Existe uma informação ainda pouco divulgada: os boletos sem registro poderão ser emitidos mesmo após dezembro de 2016. Porém, com uma importante restrição enviado por meio de um comunicado da Febraban: “os boletos de cobrança oriundos de cobrança sem registro somente poderão ser recebidos pelo Banco Beneficiário (emissor)”.
Logo, a cobrança sem registro não irá morrer por completo. Porém, a exigência que o boleto seja pago no banco emissor irá complicar bastante a operação.
Vejamos um exemplo prático: suponha que sua loja virtual emita boletos sem registro pelo Banco Itaú. Chega 2017, e você decide deixar tudo como está e continua vendendo com boleto. Seu cliente, que possui conta bancária no Santander, realiza uma compra com boleto e quando tenta realizar o pagamento no Santander, descobre que terá que ir até uma agência do Banco Itaú para efetivar a operação. Muito complicado, não é mesmo?
Vale dizer ainda que existem rumores que o prazo final seja adiado. Inclusive como já ocorreu no passado. Mas por enquanto são apenas rumores e não podemos ficar esperando. Essa mudança de prazo encontra algum respaldo no fato de grandes bancos ainda não terem apresentado solução para a lacuna deixada pelo boleto sem registro. Até o momento, a única exceção é o Bradesco, que já possui uma solução para boleto com registro para e-commerce.
Por que lojas virtuais utilizam o boleto sem registro?
Se você é novo no mercado de e-commerce ou talvez não utilize o pagamento por boleto na sua loja virtual, talvez não esteja entendendo qual a importância do boleto. Vou explicar em detalhes.
Quando falamos em pagamento com boleto, existem duas modalidades principais: com e sem registro. No e-commerce, utiliza-se praticamente apenas a modalidade sem registro (ou carteira sem registro). Mas por quê?
Essa escolha deve-se a dois fatores. Primeiro, porque o boleto sem registro é mais barato do que o registrado. O banco cobra apenas uma taxa por cada boleto sem registro efetivamente pago. Ou seja, o lojista somente possui custo de cobrança para as transações realmente realizadas.
De acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), entre 30% e 50% dos boletos emitidos no e-commerce não são pagos. Muitos consumidores emitem o boleto quando encontram algum produto com preço interessante. E utilizam o prazo de vencimento para decidir se irão ou não efetivar a compra. Nos fóruns de promoções, cupons e descontos utiliza-se a expressão “boletar” para essa prática. Veja que nestas operações o lojista não possui nenhum custo, caso o boleto sem registro não seja pago.
Já na cobrança com registro existem diversas taxas: emissão, custódia, liquidação e baixa. O lojista paga por cada boleto emitido, independente se o cliente irá ou não pagar esse título. Veja ainda que caso o cliente não pague o boleto, o lojista deve cancelar esse boleto junto ao banco e pagar uma taxa por isso.
O segundo fator é que a operação com boleto sem registro é mais simples para o lojista. Quando emite um boleto sem registro, o lojista não precisa informar ao banco. Já na cobrança com registro, o lojista deve informar ao banco sobre cada boleto emitido. Isso é feito pela troca de arquivos digitais entre o lojista e o banco. Porém, muitos lojistas não possuem sistemas de gestão preparados para a comunicação com os bancos.
Logo, devido a complexidade e os custos envolvidos, as lojas virtuais preferem trabalhar com o boleto sem registro.
Isso tudo sem contar os limitadores técnicos. No comércio eletrônico, o boleto precisa ser fornecido ao cliente quando do fechamento da compra (no final do checkout). Isso fica bem mais complexo na cobrança com registro, pois antes de exibir o boleto para o cliente, deve-se realizar a comunicação e o registro junto ao banco. Veja que, atualmente, muitas plataformas de e-commerce e os sistemas dos bancos não estão preparados para realizar essa operação de registro de forma online.
Mesmo em lojas virtuais que utilizam outros meios de pagamento como intermediadores de pagamento (como Paypal, Pagseguro, Bcash entre outros), cartão de crédito, débito ou deposito em conta, o boleto continua tendo seu lugar. Primeiro porque é uma opção mais barata para o lojista do que os demais meios. Segundo, porque o lojista recebe o valor imediatamente (em geral um ou dois dias) após o pagamento. E por último porque muitas pessoas e empresas não possuem cartões de crédito ou simplesmente preferem pagar à vista com boleto, pois nessa modalidade de compra recebem descontos.
Devido a todos estes fatores, o boleto sem registro ainda é muito importante para o e-commerce.
Impactos e desafios para as lojas virtuais
Agora que você já sabe que a data do fim está próxima, talvez esteja se perguntando: o que vou fazer?
Vou te explicar em detalhes os principais impactos e desafios para as lojas virtuais com o fim do boleto sem registro. Como diria o inesquecível apresentador Goulart de Andrade (falecido na última semana): vem comigo!!!
O primeiro e mais óbvio impacto é que novas lojas virtuais não podem mais trabalhar com o boleto contratado diretamente com o banco. Isso significa que caso precisem utilizar boleto, seja por qual motivo for, terão que optar por intermediadores de pagamento, resultando em custos mais altos e demora para receber valores.
Alguns bancos estão simplesmente informando aos seus clientes que precisam mudar para a cobrança registrada. Mesmo sabendo que, no e-commerce, existem limitadores técnicos para utilizar o boleto com registro (veja explicação acima), esses bancos não oferecem nenhuma alternativa.
E para “forçar” ainda mais os lojistas, alguns bancos estão aumentando significativamente as taxas da cobrança sem registro. Isso está sendo feito agora. Recebemos relatos de empresas que tiveram suas taxas por liquidação de boleto aumentadas de R$3,00 para R$4,30, ou seja mais de 40% de aumento. Também, li um relato no blog Ecommerce na Prática de um aumento para R$6,00. Isso é realmente absurdo.
Acredito que o maior desafio para as lojas virtuais brasileiras será a adaptação ao novo cenário. Visto que existe uma questão cultural envolvida. O boleto bancário está consolidado na cabeça de lojistas e consumidores há muito tempo.
Os fatores que justificam a preferência do lojista pelo boleto já foram explicadas acima. Mas e o outro lado? Por que o consumidor prefere pagar com boleto?
O consumidor brasileiro gosta de pagar por boleto e podemos citar diversos fatores para explicar essa preferência. Infelizmente, muitas pessoas não possuem cartão de crédito ou possuem limite baixo, por isso preferem o boleto para algumas compras (principalmente com valores mais altos). Entre as empresas ainda é mais comum efetuar pagamentos com boleto do que com cartão de crédito.
Muitos consumidores não querem contrair dívidas e preferem pagar à vista (mesmo dispondo de cartão de crédito). O boleto, geralmente, oferece um desconto de aproximadamente 5%. Isso acaba o tornando a forma preferida para pagamento à vista.
Finalmente, temos um grupo de consumidores que trabalha completamente fora do sistema bancário nacional. Esses consumidores realizam suas operações com pagamento em dinheiro (em espécie). Para esses consumidores as formas de pagamento no e-commerce são o boleto ou depósito em conta. Mas o boleto leva vantagem por ser mais seguro e evitar erros de pagamento.
Modificar o comportamento já estabelecido não será nada fácil.
Quais as alternativas para o Boleto sem Registro?
Certamente, você deve estar pensando em alternativas para o tradicional pagamento por boleto. É fato que precisamos pensar e planejar como iremos preencher a lacuna deixada pelo fim do boleto sem registro.
Mas fique tranquilo: algumas alternativas já estão surgindo no mercado!
Antes de apresentar as alternativas que estamos trabalhando na Bertholdo, quero lembrar que estamos em um momento de transição. Ou seja, novas alternativas podem surgir a qualquer momento. Mas, por outro lado, não podemos ficar esperando para ver o que vai acontecer.
Por isso, focamos em duas alternativas nesse momento.
A primeira é substituir a cobrança sem registro por uma nova versão do boleto registrado. Essa nova versão permite emitir boletos com registro de forma online, mediante comunicação direta com os sistemas do banco. Algo parecido com as transações com cartão de crédito. Logo, toda a operação será online e não haverá troca de arquivos eletrônicos de remessa e retorno.
A nova modalidade de cobrança com registro trará benefícios adicionais para os lojistas. O principal será a conciliação automática de pagamentos, ou seja, a informação que o boleto foi pago será enviada automaticamente para a loja virtual.
Sobre isso, estamos realizando testes do novo boleto com registro junto ao Banco Bradesco.
Também estamos trabalhando junto com parceiros em soluções baseadas em arranjos de pagamento e instituições de pagamento integrantes do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) em conformidade com a Lei Federal 12.865/2013. Essas novas soluções poderão oferecer redução de custos e taxas para os lojistas.
Porém, como ainda são assuntos em andamento, deixarei para explicar os detalhes em breve. Fique ligado no blog e na newsletter da Bertholdo para saber sobre essas novidades. Muito em breve, teremos ótimas notícias para os lojistas que estão preocupados com o fim do boleto sem registro.
Continuamos nosso bate papo sobre comércio eletrônico no próximos mês. Caso queira dar sugestão de temas, deixe seu comentário na área abaixo. Quero saber sua opinião sobre esse texto, faça um comentário ou avalie com as estrelinhas abaixo.
Esse relatório faz parte da série Criando Oportunidades. Se você não leu os relatórios anteriores, pode conferir aqui.
Espero que esse conteúdo ajude os lojistas e profissionais preocupados em encontrar alternativas para o fim do boleto sem registro. Caso ainda tenha dúvidas ou precise de ajuda para ajustar os meios de pagamento da sua loja virtual, entre em contato conosco! Nossos especialistas estão preparados para te ajudar.
Sucesso e prosperidade a todos!
Flávio Augusto Bertholdo